sábado, 26 de março de 2011

5+1=...

...6. Foi este o número de pontos que recebi ontem. Mas dos quais, 5 foram só para mim, enquanto o último para toda a equipa de Sparta 1.09. Não, não sou egoísta, mas bem vistas as coisas, ainda bem que eles não receberam os meus 5 pontos, senão em vez de um jogo de futebol, iríamos ter uma carnificina.

Como já tinha dito no post anterior, tive um embate com o Maurício, que não correu lá muito bem para mim. Se bem que a dada altura, antes do choque, fiquei com algum receio da entrada ser demasiado dura para ele.

Estávamos a 7m do final da segunda parte. 2-2 no marcador. O Maurício aparece sozinho do lado direito da minha área, depois de ter ultrapassado um defesa de Sparta 1.09. Neste momento posso deixa-lo ir até à linha de fundo, ou tentar cortar o seu caminho, visto que seria muito mais perigoso para nós, se ele chegasse à linha final, parasse, levantasse a cabeça, e pusesse a bola onde quisesse. Como tal, vou em direcção à bola, e como estava perto da grande área, opto por ir em tackle deslizante. Era o mais seguro e mais fácil para cortar a bola. Se calhar não era o mais seguro, visto que pouco depois de cortar a bola para fora, a perna, joelho, pé, qualquer coisa do Maurício (hm...salvo seja) bateu na base da nuca, do lado esquerdo, projectando os meus óculos. Nos instantes de segundo, em que sinto o primeiro embate, e percebo que os meus óculos saíram disparados da minha cara, sofro um segundo embate, desta vez com a sobrancelha no chão. E não correu lá muito bem. Para mim. O Chão nem se ressentiu.

À medida que as dores das duas pancadas começam a apertar, assim como paro de deslizar, fico uns segundos com as mãos na cara, de joelhos. A tentar perceber o que me doía e como estava. Nem sabia onde colocar as mãos, visto serem dois focos de dores. O problema foi quando retirei as mãos da cara, olho para direita e vejo sangue. "Oh boa, devia ter ido mais devagar contra o Maurício" foi o primeiro pensamento que me ocorreu. Levantei-me logo de seguida, sem qualquer problema, visto que não tinha sentido qualquer tontura com as pancadas. Nesta altura já tinha algumas pessoas em torno de mim, se for preciso bem mais assustadas e em choque do que eu.

Na casa de banho, depois de me limparem a cara, disseram-me que não ia continuar o jogo. Porquê? Se alguém se aleijar no joelho, cotovelo, etc, e sangrar um pouco, também tem de parar de jogar? Se assim fosse, nenhum jogo acabaria com 10 jogadores. Ok, a minha sobrancelha estava a sangrar bem mais abundantemente do que uma simples ferida, mas é para isso que os curativos servem. Enquanto a Cátia me tentava parar a hemorragia, assim como fazer o melhor curativo que conseguia com o pouco material disponível, eu discutia contra ela mesmo, a Elsa, o Duarte, o Caça e sei lá mais quem, sobre continuar ou não o jogo. Ok, não era bem discutir, era mais eu convencido de que ia acabar o jogo, e eles a não me deixarem.

Pode parecer irresponsável, pode parecer imaturo, mas eu estava ciente que estava bem, tinha controlo de todas as minhas qualidades motoras e psicológicas. Então porquê suspender o jogo, e privar a minha equipa de conquistar um empate, ou mesmo uma vitória, ainda por cima quando já só faltavam 7m? Eventualmente o Caça lá fez uma espécie de acordo comigo, ao deixar-me jogar se logo de seguida fosse ao hospital tratar da ferida. Claro que ia fazer isso, não ganhava nada em andar a passear pelo CDUP ou FCUP sem razões para tal, com a sobrancelha aberta. E assim foi.
Marcamos um golo, e sofremos outro, mas asseguramos um empate. Um ponto precioso.

Quando cheguei ao hospital, com boleia do Fuchia, só pensava na alegria do jogo, e na felicidade do que aconteceu. Não de partir a cabeça, mas de ter ido jogar naquele estado. Todos os dias se vêem pessoas a gabarem-se de serem os maiores, os melhores, os campeões, etc. Todos os dias alguém se gaba de alguma coisa. Até eu já fiz isso. Mas existe uma larga diferença entre falar e fazer. Acho que um homem não pode ter medo ou limitar-se com uma ferida destas, principalmente quando não tinha tido nenhum impacto em mim, exceptuando uma cara ensanguentada, e mãos tremidas. Não voltei a jogar para depois me gabar ou me armar em campeão. Não. Fiz o que fiz, pela minha equipa, e para calar certas bocas, ou pessoas que têm uma ideia errada de mim. Não sou um menino. Não sou tão fraco como me pintam. Não sou um gajo qualquer que não quer saber de nada, ou de ninguém. Mas também não sou o maior do meu bairro, ou o Super-Homem. Sou uma pessoa normal, que pôs a equipa acima de qualquer dor, ou ferida aberta tivesse. Isso e também sou apologista de que se der pouco significado a estas coisas, elas tornam-se em coisas insignificantes. A mesma coisa com uma dor qualquer que alguém tenha. Se estivermos sempre atentos à dor, ela parece muito maior, mas se nos distrairmos, se a minimizar-mos ela torna-se de facto mais pequena. Tanto quanto sei, até pode ajudar o meu corpo a trata-la.

Enfim, foi engraçado. Cheguei ao hospital, depois de uns 10m à espera antes de ir para a triagem, até as idosas que lá estavam repararam que estava a sangrar por baixo do meu curativo. Vá lá que aguentou até ao final do jogo, porque assim que saí dele, senti um líquido quente no curativo a querer escorrer. Quando passei à triagem, tive o melhor exame de sempre, feito por uma enfermeira (?) sentada numa secretária, frente a um computador, que nem sequer olhou para mim, ou perguntou se estava bem. Perguntou o que tinha, como tinha feito, mais nada. Nem reparou se estava a sangrar, ou perguntou se estava tonto, com vómitos, sintomas normais de fortes pancadas na cabeça. Não sei, não queria um tratamento especial, mas e se fosse alguém que estivesse realmente a perder muito sangue? Provavelmente a mulher nem reparava. Depois desta fantástica triagem, fui para a fila de espera para a Pequena Cirurgia com uma fita amarela, 3º grau de gravidade para um paciente. De facto, até concordo, não era nada urgente. Por acaso ainda estava a sangrar por baixo do curativo, assim como perto do olho, mas mesmo assim concordei com o julgamento.

Esperei uns 20m, e finalmente fui chamado para a Pequena Cirurgia. E muito bem chamado, para ser atendido por 3 médicas. Muito simpáticas, e bonitas, por acaso. Fui falando sempre com elas, falei-lhes da situação do jogo, da importância de continuar a jogar, e até as cativei para a equipa de futsal feminina da FCUP. Para o ano não me escapam :ar:

Foi engraçado fazer a cirurgia. Levei anestesia local, que elas fizeram questão de deixar bem claro que ia doer, e depois lá me começaram a coser os pontos. Também não doeu muito, apesar de estar a sentir sempre a agulha só a sair. A anestesia não deve ter pegado na zona, mas oh well, no pain, no gain. Depois disto, acharam por bem pedir um raios-x para o pequeno hematoma onde o Maurício me tinha batido. Se soubesse que ia perder 2h a seguir, por causa de um mal entendido entre mim e a Dra. tinha cagado no raios-x e vindo embora. Ela disse para eu aguardar à entrada que já me ia levar ao raios-x. Assim fiz, e esperei, esperei, e esperei. Duas horas. Vá lá que nesta altura já tinha a Sílvia comigo, que me foi fazendo companhia, a quem desde já agradeço por ter estado comigo todo esse tempo. Eventualmente a médica lá se lembra que não me tinha levado a lado nenhum, e que nem me tinha sequer dado a minha folha para ir tirar o raios-x. Resultado: quando as coisas voltaram a andar, esperei, tirei, e os resultados ficaram disponíveis no sistema em 10m. Simple as that. Ela analisou, viu que não tinha nada (para além da pancada normal que tenho) e escreveu uma carta para entregar no Centro de Saúde aqui da zona. Recomendações normais, e fiquei livre para me ir embora perto das 19h40.

E pronto, foi este o episódio de ontem. Já há muitos anos que não abria a cabeça. Quando era mais novo, aka, menos de 8 anos, ainda a abri umas 3 vezes pelo menos. Fora os dois traumatismos cranianos quando tinha 8. Espero que não ganhe esse vício de novo.

Bem, já estou farto de escrever paredes de texto, e estou cheio de dores de pescoço (raios parta o Maurício >_>). Obrigado aos que se preocuparam comigo, e a atenção dada. Peço desculpa a quem se queria ver livre de mim, visto que ainda não foi desta. Quem sabe numa próxima vez. Se não me levantar logo de seguida após uma queda feia, ou embate com muita velocidade, então sim, é motivo para festejarem. Até lá, vou continuar aqui com uma sobrancelha com uma cicatriz toda sexy, e um olho meio inchado.

Ah, e claro, Avante Sparta 1.09 :D

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